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Xavier Machiana, O artista e Indigo Blue, o seu novo projecto

Xonguila, Agosto, 30, 2023


No palco vibrante da música moçambicana, Xavier Machiana emergiu como uma voz inconfundível. Nesta edição da revista Xonguila, temos o privilégio de conversar com ele sobre o seu novo projecto, Indigo Blue, e fazer uma viagem pela notável carreira que já possui.



O que inspirou Indigo Blue?

    

Indigo Blue surge quase que inocentemente. Depois de um período longo (pós-pandemia) sem tocar, comecei a pensar no quão terapêutico seria montar um estúdio e montar uma banda. A princípio, nada sério, uma espécie de clube de rapazes apenas para descomprimir aos fins-de-semana e, talvez, tocar em eventos pequenos ou festas. Nisto, veio-me à cabeça uma pequena lista de bons amigos que sempre admirei musicalmente e com quem nunca tinha realmente experimentado tocar ou gravar. Depois seguiram-se uns telefonemas e uns cafés para saber quem estava disponível e com vontade de experimentar algo novo, e a formação foi orgânica.


O mais engraçado foi o primeiro dia de ensaio, em que a maioria chegou ao estúdio sem conhecer os outros e sem saber no que esta “experiência” iria dar.  Depois de concordarmos em alguns temas comuns aos 5 elementos, começámos a tocar e, 30 minutos depois, parecíamos adolescentes numa banda de garagem que já não queria parar... Foi interessante começar dessa forma.


Podes dizer-nos em poucas palavras em que consiste esse projecto? 


Eu diria que somos um conglomerado de indivíduos com diversas origens culturais e musicais. É interessante a riqueza que vem dos nossos backgrounds culturais, socias e, acima de tudo, da experiência musical de cada um. Eu, pessoalmente, tenho um percurso específico ligado ao rock nacional, o Mole Mussoco (baixista) vem de uma vertente de música tradicional moçambicana, o Ivan Ferreira (baterista) vem de uma escola mais formal de Jazz com um percurso internacional riquíssimo, o Jaime Ferreira (guitarra) também vem de um percurso de rock internacional com experiência com vários músicos, e o Ray Mauele (pianista) vem do jazz, gospel, soul, também com muitos anos de estrada.



A forma como abordamos os temas e a combinação das diferentes metodologias de trabalho está a revelar-se algo em que faz sentido investir. Hoje já não pensamos mais em apenas um clube de rapazes. A ideia é continuar a compor, gravar e tocar. Este ano queremos fazer mais alguns concertos e, quem sabe, alguns singles novos. Queremos trazer mais música para o mundo.


Por que escolheste Indigo Blue para nome do projecto? Tem algum significado especial?


Foi uma escolha colectiva depois de análise de muitas propostas. Indigo Blue significa, entre outras coisas, serenidade, integridade, reflexão e respeito. Algo que tem muito em comum com a nossa forma de estar como indivíduos, como grupo e como gostaríamos que o mundo fosse.


Quais foram os desafios que consideras mais marcantes no teu percurso musical?


O maior de todos foi mesmo no início da carreira: fazer rock num país sem cultura de rock e com vários estereótipos à volta das artes e, sobretudo, sobre os fazedores deste estilo de música. No princípio, foi complicado conseguir a aprovação familiar e conseguir manter o equilíbrio social, académico e profissional. Houve bons e maus momentos no percurso, mas gosto da forma como a sociedade se foi ajustando e se foi tornando cada vez mais receptiva.  Hoje, passados mais de 25 anos, acho que foi uma viagem interessante que faria de novo.


Como vês a evolução da música moçambicana desde que começaste a tua carreira?


A música moçambicana evoluiu muito qualitativamente e quantitativamente. Hoje já há uma abertura muito maior, já existem instituições de formação superior em artes, já existe acesso a equipamento, existem ferramentas de gravação e inúmeras plataformas de divulgação. De certa forma, diminuíram-se algumas assimetrias e aumentou-se a oferta no nosso mosaico cultural. No entanto, acredito que ainda temos alguns desafios pela frente em termos de qualidade que acredito termos capacidade e vontade de vencer.


Como foi a transição de ser membro de uma banda popular para artista solo?


Foi uma experiência riquíssima, algo que já queria experimentar há muitos anos, sair da zona de conforto, da banda conhecida, e explorar domínios. Explorar ritmos e formas de trabalhar novas, abrir horizontes e trabalhar com músicos diferentes sem ter um resultado/estilo pré-definido. Nesse período tive o privilégio de trabalhar com o Joni Schwalbach, o Rui Martins, o Arnaldo Manhice e também com músicos internacionais como Eli Menezes e John Caban. Acho que a beleza de ser artista a solo é poder trabalhar em projectos independentes. Aprendi que exige muita maturidade profissional. Aprendi a sua beleza de desafiar-nos, a nós mesmos, a criar novas convenções e dinâmicas.


Além da música, quais são as paixões que influenciam o teu trabalho?


Adoro belas-artes e adoro comunicação. Se não trabalhasse com comunicação e não tocasse numa banda, provavelmente estaria a pintar e a expor.


O que te dá mais prazer: compor, gravar em estúdio ou actuar ao vivo? 


Eu acho que a minha maior paixão é compor e gravar em estúdio. Adoro o processo de construção de uma música a partir de um simples poema ou de uma pequena sequência de acordes. Adoro aquelas inúmeras horas de experimentação, de troca de ideias, de longas noites de discussão em equipe, do grava e repete, etc. Adoro o palco também, mas, se calhar, por causa da minha timidez (não aparente), expresso-me com maior velocidade no estúdio, com um grupo restrito.


Quais as principais influências musicais que tiveste ao longo da vida?


Tive várias fases: entre os 13 e os 17, acho que eram bandas como Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam, etc. Aos 18, descobri Salif Keita, Youssou N’Dour, etc.; aos 23, comecei a ouvir Lenny Kravitz, Prince, Keziah Jones, U2, etc. Acredito que depois dos 28 descobri Miles Davis e Marcus Miller, entre outros, entrei noutra dimensão mais jazz... Entretanto, fiquei mais mente aberta e hoje ouço tudo o que me dê prazer e leveza, mas confesso que ultimamente ando fascinado com o pop dos anos 80.


E como equilibras a tua vida pessoal com a carreira artística? 


De forma muito espontânea. Tento ser equilibrado na vida familiar, profissional e artística. Tenho muito apoio da família nesse sentido. Acho que a parte artística, na verdade, me torna melhor nas outras áreas. Funciona como terapia e vaso de escape. Sinto o mesmo nos meus colegas e acredito que todos nós deveríamos investir em actividades paralelas, sejam elas artísticas, desportivas ou outras. O único desafio é que, às vezes, a demanda dos vários lados aumenta no mesmo período. Mas quem corre por gosto não se cansa.


Planos para o futuro? Podes partilhar connosco quais serão os teus próximos passos na música?


Claramente continuar a tocar, gravar músicas novas e tocar ao vivo. Temos planos para alguns singles, vamos ver o que conseguimos fazer nos próximos tempos.

 
 

© 2025 XAVIER MACHIANA

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