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Boa Kakana numa noite em que Rockfeller`s foi Kool

Achuva que, nos últimos dias, tem castigado a cidade de Maputo e outras regiões do país não foi suficiente para demover as mais de 4 mil almas que se fizeram ao Campus da Universidade Eduardo Mondlane para verem desfilar os Kool & The Gang,  Banda Kakana e Rockfeller`s no último Moments of Jazz de 2016



A história da música internacional dos últimos 40 anos registou, como um dos maiores intérpretes do funk, a banda Kool and the Gang. Criada em 1964 pelos irmãos Robert Robert “Kool” Bell e Ronald Bell “Khalis Bayyan” que chamaram para completar a equipa mais cinco amigos do ensino médio, Ricky West, Dennis Thomas, Charles Smith, Robert “Spike” Mickens e Woody Sparrow, lançando o álbum de estreia denominado precisamente “Kool & the Gang” em 1969.


O funk, género musical oriundo dos Estados Unidos da América nos finais da década 60, tem muitos aficcionados entre nós. Resultante da mistura do soul, jazz e rythm and blues (R&B), o funk privilegia o som do baixo eléctrico e os sopros. Várias bandas destacaram-se na exploração deste estilo, sendo de destacar os The Meters, Tower of Power, Earth, Wind & Fire, The Blackbyrds, The Brothers Johnson e Charles Wright & the Watts 103rd Street Rhythm Band.


Com estes ingredientes no imaginário dos moçambicanos, a anunciada vinda dos Kool & The Gang criou uma enorme expectativa que afinal se confirmou na noite da última quinta-feira no Campus da UEM. Nem a chuva conseguiu demover os milhares de espectadores que se juntaram para o “Celebration” dos 129 anos da cidade de Maputo ao som da música internacional e nacional.


E quando os elementos da banda norte-americana se fizeram ao palco, os espectadores já estavam mais do que preparados porque os grupos da casa, nomeadamente a banda Kakana e os Rockfeller`s, já haviam dado o mote da festa e colocado a fasquia lá no alto. Afinal, também tínhamos algo para dizer…


CHUVA E EMOÇÃO


Os Kool & The Gang vieram a Maputo na sua máxima força. Robert Koo Bell (baixo), Shawn McQuller (voz), Curtis Williams (teclados), Amir Bayyan (guitarra), Timothy Horton (bateria), Lavell Evans (voz), Michael Ray (trompete), Ravi Best (trompete), Jermaine Bryson (trombone), Walter Anderson (voz) e Louis Van Taylor (saxophone).


E logo de início mostraram a que é que tinham vindo. Ocuparam o vasto palco e meteram mãos à obra. Destilaram sons que fizeram as delícias das multidões em festas e farras nos anos 80 e 90, mas também apimentaram com dos temas mais recentes (Sexy) interpretado pelo membro mais novo da banda, Walter Andreson, que se juntou assim a Shawn McQuiller (vocalista principal) e Lavell Evans (2.º vocalista), naquilo que o próprio Robert Bell denominou por passagem de testemunho.


“Get Down on it”, “Ladies Night”, “Fresh” e “Celebration” foram alguns dos números com que a mítica banda brindou os espectadores que, na segunda metade do concerto, já estavam debaixo da chuva. Interessante notar que nem mesmo a chuva demoveu os espectadores dado que os músicos, mostrando um profissionalismo acima da média e um respeito ainda maior pelos presentes, continuaram a destilar melodias que, invariavelmente, eram respondidos com coros animados.


Cantou-se à grande!

A emoção estava em alta apesar da baixa temperatura. Os músicos, animados, e com o baixo do líder Robert Bell a ditar o andamento musical, fizeram a festa e justificaram – contra algumas opiniões dissonantes – que, tal como o vinho que com o passar do tempo só melhora, os Kool & The Gang são sim uma banda de alto nível e com qualidade bastante para vingar. Aliás, depois de Maputo, lá seguiram eles para Kampala (Uganda) para mais um concerto.


No final do espectáculo, Robert “Kool” Bell disse ao domingo que a vinda a Moçambique era já um velho sonho que tardava em realizar-se. A banda já actuou em países como Senegal, Angola e África do Sul e “pelas informações que tínhamos, havia em nós esta vontade de vir actuar aqui e estávamos certos. Foi bonito ouvir as pessoas a cantarem canções que fizemos há mais de 30 anos… não há melhor coisa no mundo”.

Bell disse ainda que a banda está envolvida em muitas actividades fora da música, nomeadamente em actividades sociais e que, como forma de preservar a marca Kool & The Gang, estão a integrar jovens na banda para que possam continuar a navegar “quando nós outros já não pudermos”.


EM CASA MANDAMOS NÓS


Como é tradição no Moments of Jazz, a música da casa, uma vez mais, fez as honras da casa. E fê-lo superiormente. A banda Kakana – Yolanda Chicane (voz), Jimmy Gwaza (guitarra), Quinzinho (bateria), Figas (teclado), Realdo Salato (baixo) e Djivas (guitarra) – tiveram a responsabilidade de abrir o espectáculo quando eram precisamente 17.00 horas. Nessa altura, a moldura humana já era bastante significativa.


Yolanda, à capela, fez uma belíssima homenagem à cidade de Maputo, cantando “Maputo” de Hortêncio Langa.  Afinal, a “Cidade das Acácias” celebrava 129 anos de existência. Depois, com propriedade, largou as cordas vocais para interpretar“Forgive”, “Suhura”, “Mufolh” e “Te Amo”, esta última – belíssima canção – que irá fazer parte do segundo disco da banda.


A banda Kakana mostrou que está em constante reinvenção; a sua actuação, irrepreensível, mostrou que Jimmy Gwaza e a sua turma estão no caminho certo. Exemplo é o tema “Te amo”, uma canção de amor atrevida mas baseada na marrabenta e com alguns toques a lembrar o rock mas com uma tranquilidade arrepiante.

Estão de parabéns!

Depois foi a queda total de muros com a entrada dos aguardados Rockfeller`s. A banda que andou “fugidia” os últimos 10 anos, voltou na máxima força e mostrou que as férias não tiraram a força e a irreverência dos seus integrantes.


É preciso salientar que a banda mantém os membros fundadores, nomeadamente Xavier Machiana (guitarra e voz), Evangelos “Ivan” Velhanos (baixo), Abílio Manjaze (guitarra), Marco “Timas” Ribeiro (teclado) e André “Helton” Mucauque (bateria), o que torna mais segura a execução em colectivo.


O resto foi só viajar ao som de “Climbing”, “Voar”, “Vida Dura” e “Much Better” (proposta interessante que fará parte do disco na forja). O público, conhecedor da produção musical do Rockfeller`s, cantou a plenos pulmões. Aliás, mal se deram os primeiros acordes de “Vida Dura”, o público respondeu “viver assim não dá tesão/vou ter que partir/para encontrar outro lugar/aqui já não está a dar”… depois,  a explosão.


O quinteto de Maputo, literalmente, pulverizou o espaço todo como que a dizer, alto e bom som, que em casa mandamos nós!

Estava desenhado o cenário para a entrada dos Kool & The Gang num palco que já fervilhava de tanta emoção. Os Rockfeller`s merecem o nosso reconhecimento. Estiveram bem. Sacudiram e bem a ferrugem…




MOMENTOS QUE FICAM


Moments of Jazz é um projecto liderado pelo empenhadíssimo Belmiro Quive (BDQ Concertos) que, diga-se em abono da verdade, superou todas as expectativas. Pode-se dizer, sem medo, que este foi seguramente um dos melhores espectáculos dos últimos anos. Organização impecável. Palco a altura das bandas convidadas. Luz e som de primeira água.

O espaço escolhido, Campus da UEM, mostrou-se adequado para o espectáculo. Uma tenda gigante foi montada para o “after party” que foi sabiamente comandado pelos “disco-jockeys” Mohamed Moretta (EUA) e Sérgio Butler (Moçambique).

A BDQ Concertos e os seus parceiros, incluindo a Vodacom, o Banco ABC e muitos outros, podem estar de facto satisfeitos com a oportunidade que deram aos moçambicanos e não só de verem os Kool & The Gang naquele dia chuvoso. A festa foi tamanha. O espectáculo, pelo seu nível de organização, não ficou a dever nada a outros eventos similares que se registam noutras paragens do chamado Primeiro Mundo.

Está de parabéns Belmiro Quive e a sua turpe da BDQ Concertos.

Aliás, como que a fazer jus aos pergaminhos, a BDQ já anunciou que para o ano teremos, em Moments of Jazz, o duelo dos guitarristas Jimmy Dludlu e Norman Brown (Março) e Billy Ocean em Setembro.

Até lá put some stank (stink/funk) on it!(ou seja “coloque mais funk nisso!”).


 
 

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